quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Família que segura a onda


Reportagem publicada na revista Fluir junho/2015:

Demorei um tempo para entender que a partir do momento que decidi me casar com um surfista de ondas grandes deveria rever meus conceitos de “estabilidade”, “rotina” e “segurança”.

A “rotina” de não ter “rotina” afeta toda nossa família. Um café da manhã tranquilo pode virar um “maremoto” após um “click” no site de previsão de ondas, onde vê-se uma ondulacão enorme indo para o Taiti ou de um email com a chamada de um campeonato em alerta “verde” no Chile, no Peru, na Califórnia….. daí começa uma sequencia de correria para comprar as passagens, arrumar as malas, embalar as pranchas, cancelar todos os compromissos para próxima semana.

Sempre que podemos, para ficarmos juntos, viajamos para acompanhar meu marido. Meu filho, Reno Kai, de 5 anos nunca cumpriu o calendário escolar direito.. Tem saudades da escola e as vezes, quando passamos mais de 1 semana longe, sou eu quem tem que rever as materias com ele no hotel, no avião….

Não é fácil, mas acredito que todo mundo tem seus desafios e eu não posso reclamar. Enquanto muitas pessoas querem uma vida de aventuras, eu rezo para conseguirmos comemorar o Natal em casa, no Hawaii, sem correrias (o que nem sempre acontece, já que Dezembro é o auge da temporada de ondas grandes no hemisfério Norte), com presentes na lareira, família e amigos.

“As pessoas que estão ao seu lado são as pessoas que irão te ensinarão a viver”….me disse Carlinhos um dia.

Quando o mar fica gigante, Carlinhos é o ser mais calmo do planeta. Dá até aflição. Se controla e finje que a adrenalina não está correndo em suas veias. Acorda, medita, se alonga, faz ele próprio seu mingau de aveia, pica as castanhas por cima e com paciencia espera a colher de mel escorrer até o prato. Eu vou ficando ansiosa, assim como todos que estão a sua volta. Na praia, nesses momentos tensos, com o mar enorme, cumprimenta todo mundo, sorri, conversa….
Para mim isso é uma lição de estabilidade emocional e auto-controle invejável. Requer prática, e eu me espelho nele para um dia conseguir controlar meus “hormônios” o tempo todo.

As vezes sonho que ele vai deixar um swell passar e não vai mais querer surfar as maiores ondas do planeta…..mas claro, hoje isso é somente um sonho….um desejo talvez, de ter as pessoas que eu amo seguras ao meu lado. Mas no momento seguinte, deixo de remar contra a correnteza e me apegar `as certezas que não existem, para deixar as coisas fluirem, …no ritmo que as coisas tem que acontecer….sei que um dia, naturalmente, ele vai parar….. nao agora, não sei quando, quem sabe?! Sempre brincamos que o que agente não sabe, Netuno sabe, então deixa para ele esse dilema e vamos rezar e agradecer pelas ondas que estão sempre quebrando perfeitas em algum lugar!



Ligia Moura- Ligia é esposa do big Rider Carlos Burle. Paulista, empresária, gestora ambiental e surfista amadora “esforçada”.
Contato:
ligiamoura@uol.com.br



Eu, Carlos e Iasmim no aniversário dele.
Todos compenetrados! Carlos, eu e Reno Kai
Relax pós surfe. Carlos, Reno Kai e eu!
Família Burle posando no nosso super Stand Up inflável
Família Burle numa festa de família
Reno Kai e Iasmim
Carlos Burle, Ligia Moura e Reno Kai no Hawaii
Ligia Moura, Reno Kai e Carlos Burle `a caminho do surfe, Hawaii.

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