Reportagem publicada na revista Fluir junho/2015:
Demorei um tempo para entender
que a partir do momento que decidi me casar com um surfista de ondas grandes
deveria rever meus conceitos de “estabilidade”, “rotina” e “segurança”.
A “rotina” de não ter “rotina”
afeta toda nossa família. Um café da manhã tranquilo pode virar um “maremoto” após
um “click” no site de previsão de ondas, onde vê-se uma ondulacão enorme indo
para o Taiti ou de um email com a chamada de um campeonato em alerta “verde” no
Chile, no Peru, na Califórnia….. daí começa uma sequencia de correria para
comprar as passagens, arrumar as malas, embalar as pranchas, cancelar todos os
compromissos para próxima semana.
Sempre que podemos, para ficarmos
juntos, viajamos para acompanhar meu marido. Meu filho, Reno Kai, de 5 anos
nunca cumpriu o calendário escolar direito.. Tem saudades da escola e as vezes,
quando passamos mais de 1 semana longe, sou eu quem tem que rever as materias
com ele no hotel, no avião….
Não é fácil, mas acredito que
todo mundo tem seus desafios e eu não posso reclamar. Enquanto muitas pessoas
querem uma vida de aventuras, eu rezo para conseguirmos comemorar o Natal em
casa, no Hawaii, sem correrias (o que nem sempre acontece, já que Dezembro é o
auge da temporada de ondas grandes no hemisfério Norte), com presentes na
lareira, família e amigos.
“As pessoas que estão ao seu lado são as pessoas que irão te
ensinarão a viver”….me disse Carlinhos um dia.
Quando o mar fica gigante,
Carlinhos é o ser mais calmo do planeta. Dá até aflição. Se controla e finje
que a adrenalina não está correndo em suas veias. Acorda, medita, se alonga,
faz ele próprio seu mingau de aveia, pica as castanhas por cima e com paciencia
espera a colher de mel escorrer até o prato. Eu vou ficando ansiosa, assim como
todos que estão a sua volta. Na praia, nesses momentos tensos, com o mar
enorme, cumprimenta todo mundo, sorri, conversa….
Para mim isso é uma lição de
estabilidade emocional e auto-controle invejável. Requer prática, e eu me
espelho nele para um dia conseguir controlar meus “hormônios” o tempo todo.
As vezes sonho que ele vai deixar
um swell passar e não vai mais querer surfar as maiores ondas do planeta…..mas
claro, hoje isso é somente um sonho….um desejo talvez, de ter as pessoas que eu
amo seguras ao meu lado. Mas no momento seguinte, deixo de remar contra a
correnteza e me apegar `as certezas que não existem, para deixar as coisas
fluirem, …no ritmo que as coisas tem que acontecer….sei que um dia,
naturalmente, ele vai parar….. nao agora, não sei quando, quem sabe?! Sempre
brincamos que o que agente não sabe, Netuno sabe, então deixa para ele esse
dilema e vamos rezar e agradecer pelas ondas que estão sempre quebrando
perfeitas em algum lugar!
Ligia Moura- Ligia é esposa do big Rider Carlos Burle.
Paulista, empresária, gestora ambiental e surfista amadora “esforçada”.
Contato:
ligiamoura@uol.com.br
Todos compenetrados! Carlos, eu e Reno Kai
Relax pós surfe. Carlos, Reno Kai e eu!
Família Burle posando no nosso super Stand Up inflável
Família Burle numa festa de família
Reno Kai e Iasmim
Carlos Burle, Ligia Moura e Reno Kai no Hawaii
Ligia Moura, Reno Kai e Carlos Burle `a caminho do surfe, Hawaii.
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